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As polêmicas de Monteiro Lobato

Famoso e renomado autor de livros desde seus dias, Monteiro Lobato já levantou polêmica por diversos motivos. Entenda:

Em seu tempo, Monteiro Lobato, apesar de conhecido e renomado, já foi muito criticado por conta de sua postura fortemente nacionalista e chegou a ser acusado de socialismo e inserido no index proibitorum, uma espécie de lista de obras proibidas da época.

Em uma correspondência com seu amigo Arthur Neiva em 1928, Monteiro Lobato chega a explicitar sua opinião: “País de mestiços, onde branco não tem força para organizar um Kux-Klan (sic) é país perdido para altos destinos”.

Mas então, diante dessas constatações, ainda faz sentido ler e transmitir a obra Monteiro Lobato?

A resposta é sim, por dois motivos:

1) Monteiro Lobato deixou um legado de importância ímpar na literatura brasileira, e em especial, a infantil, sendo um dos primeiros autores que escreveram para crianças na América Latina, além de ter marcado a infância de gerações de brasileiros.

2) Obras escritas em outras épocas com conteúdos preconceituosos podem ser uma oportunidade para usá-las criticamente e até como forma de análise das transformações que a nossa sociedade passou e ainda precisa passar para a promoção da igualdade racial. 

Nos dias de hoje, o escritor Monteiro Lobato possui um legado indiscutível e agora tem suas obras literárias criticadas por outro motivo: o conteúdo racista e preconceituoso. Vale lembrar que racismo é crime, e portanto as obras não podem ser simplesmente distribuídas sem algum tipo de aviso ou edição crítica. De alguns anos para cá, cresceu o debate acerca do uso ou não de suas obras voltadas para o público infantil.

Em 2010 um livro seu teve a distribuição proibida nas escolas pelo Conselho Nacional de Educação, retornando posteriormente com uma nota explicativa a respeito do contexto histórico em que a obra foi escrita. Já em 2012 foi realizada uma votação no Supremo Tribunal Federal para decidir se os livros infantis do autor ainda deveriam ser utilizados nas escolas, pois obras como “Caçada de Pedrinho” e “A menina do narizinho arrebitado” possuem trechos que extrapolam o limite do absurdo para os dias de hoje como chamar a tia Anastácia de "negra de estimação" por exemplo.



 

Mas então, como trabalhar com esse material de forma benéfica e crítica?

Primeiramente, deve-se considerar em qual contexto ele será usado. Quando o livro Caçadas de Pedrinho foi retirado das escolas e depois voltou, foi acrescentado à obra um aviso sobre a necessidade de se considerar o contexto histórico para a leitura adequada. Porém, isso basta? Todos os leitores, principalmente as crianças, se atentarão ao aviso e também terão a capacidade de distinção entre o que deve ou não ser descartado?

Por isso, é necessária, além de uma leitura crítica, uma revisão, edição e adaptação adequadas, trazendo à tona a obra infantil pensada e própria para crianças, com responsabilidade, respeito e valor, e ainda manter o caráter inventivo e imaginativo do autor.

Afinal, mesmo hoje, muitas pessoas ainda tem as histórias da Emília, Visconde de Sabugosa e Narizinho em seu imaginário da infância e retirar o conteúdo nocivo é apenas um detalhe diante do universo de imaginação contido nas obras.  

Uma de suas obras de sucesso foi A menina do narizinho arrebitado, adaptada mais recentemente para o formato de audiobook pela PontoContos, incluindo atenção a esses aspectos no texto da obra, além de trilha sonora e efeitos. A diretora Rafaela Motta conta como foi o processo de revisão, produção e adaptação da obra para audiolivro:

As obras de Monteiro Lobato marcaram muito minha infância, tenho um carinho muito grande especialmente pela personagem Emília do Sitio do Pica-pau Amarelo, então ser responsável pela adaptação das obras do autor foi desafiador mas também muito prazeroso.

Logo no início do livro, Lobato já se refere a tia Anastácia de maneira extremamente desumanizante e preconceituosa, então desde o início foi preciso trabalhar em cima do texto para deixar a obra adequada. Apesar disso, as modificações feitas não interferem em nada na experiência de leitura e escuta e nem o desenrolar da história do livro. Eu com certeza iria amar conhecer as aventuras de Narizinho e Emília em audiolivro quando criança, assim como estou amando agora!

Rafaela Motta sobre o audiolivro A menina do narizinho arrebitado.

Criado em: 07/12/23
Atualizado em: 06/09/24

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